O
canto e a dança da bailarina Eunice Izabel dos Santos, a Bel, e de sua
filha Eshiley Emanuele dos Santos, de 10 anos, deram início à cerimônia
de abertura oficial da 85ª Semana do Fazendeiro, na noite deste domingo
(27), no Espaço Acadêmico-Cultural Fernando Sabino. Com roupas e
pinturas no rosto que remetiam a rituais do tempo da escravidão, elas
entraram no local cantando Quando eu era criança, cuja letra entoava a esperança: “Deus é o maior; vai me ajudar a vencer”.
A apresentação das duas motivou o secretário executivo
do Ministério da Educação e ex-reitor da UFV, Luiz Cláudio Costa, a
fazer uma rápida reflexão sobre a história dos negros no Brasil, que,
embora libertados há 126 anos, ficaram décadas excluídos da educação
formal. Apesar do crescimento do número de jovens negros nas
instituições de ensino nos últimos anos, o secretário reconhece que
ainda há muito que avançar. Mas tem a convicção de que “a filha da Bel
terá mais oportunidades” do que gerações anteriores. Durante seu
discurso na cerimônia de abertura, o professor Luiz Cláudio Costa
destacou o papel da UFV com a Semana do Fazendeiro que, “cada vez mais,
tem sido capaz de dialogar com os diferentes setores”. E essa
característica, em sua opinião, “é o segredo e o grande desafio de uma
universidade”. Para ele, a Semana do Fazendeiro tem possibilitado que
novas perguntas sejam feitas para a Universidade responder. São essas
novas perguntas, em sua avaliação, que vão “ajudar a construir uma
universidade cada vez mais comprometida em fazer do Brasil um país mais
justo e a construir uma realidade de inclusão”.
Inclusão,
por sinal, é o que busca de maneira crescente a Semana do Fazendeiro,
segundo o pró-reitor de Extensão e Cultura, Gumercindo Souza Lima. Em
seu discurso, ele lembrou que a preocupação em incluir jovens, mulheres e
a prática agroecológica acabou por transformar a Semana do Fazendeiro
em um “evento múltiplo, com outros eventos agregados”, como a Semana da
Juventude Rural, a Semana da Mulher Rural e a Troca de Saberes, que, a
cada ano, levam ao campus Viçosa da UFV um número maior de
participantes. Somente em 2014, serão cerca de três mil agricultores e
agricultoras participando das atividades. O pró-reitor lembrou ainda a
dimensão da equipe envolvida na realização da Semana do Fazendeiro. São
140 pessoas distribuídas em 29 subcomissões, além de mais de 300 em
setores como os de manutenção, transporte e segurança, e mais de 300 -
professores e técnicos - oferecendo cursos e clínicas tecnológicas.
Todos
eles, juntamente com os agricultores e agricultoras, receberam um
agradecimento da reitora da UFV, Nilda de Fátima Ferreira Soares, que
encerrou a cerimônia de abertura. Ela lembrou ao público o contexto de
criação da Semana do Fazendeiro, em 1929, quando o mundo enfrentava a
mais séria crise econômica da história. Desde a origem do evento, seus
objetivos têm sido os de oferecer capacitação e promover reflexões que
ajudam a ampliar as possibilidades de melhoria de vida dos agricultores.
E isso, conforme a reitora, tem se estendido na UFV para além da Semana
do Fazendeiro. Um exemplo é a adesão da Universidade ao Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA), por meio do qual estão sendo adquiridos
banana prata, pó de café e feijão de agricultores familiares da região
para o restaurante universitário do campus Viçosa.
Educação do Campo
A
implantação, em 2014, do curso de Licenciatura em Educação do Campo
também caminha nessa direção, uma vez que, de acordo com a professora
Nilda, “vai possibilitar à UFV formar pessoas que já estão no campo e
que têm interesse em fazer com que a educação possa ser realizada ali”. E
ressaltou: “que sonho seria se pudéssemos voltar a ter as escolas do
meio rural”. Este sonho, que, inclusive, foi reivindicado pela reitora
ao secretário executivo do MEC, foi também comentado pelo agricultor
Romualdo José Macedo, que, na cerimônia, representava os participantes
da Troca de Saberes. Ele, que é um dos 120 alunos do curso de
Licenciatura em Educação no Campo, disse que é “uma honra fazer parte da
UFV em um curso que é uma iniciativa criada em parceria com os
movimentos sociais do campo”. Romualdo destacou o papel do Centro de
Tecnologias Alternativas da Zona da Mata Mineira (CTA-ZM), com sede em
Viçosa, que “faz a ponte entre a UFV e os agricultores e agricultoras
familiares da cidade e região”.
A
abertura de espaço para os agricultores ficarem mais próximos e juntos
da UFV foi reconhecida por Romualdo e justificada pela reitora ao
lembrar que a agricultura familiar é responsável por cerca de 40% dos
alimentos, em especial de grãos, consumidos no Brasil, apesar de ocupar
somente 25% da área agrícola do país. “Há uma grande quantidade de
alimentos que está sendo produzida nesta pequena propriedade. Então, é
preciso que tenhamos um olhar profundo e com muito zelo para que esta
agricultura seja cada vez mais produtiva e pratique a agroecologia, sem o
uso de agrotóxicos. Que a gente possa nos mobilizar cada vez mais e que
a Universidade possa ser esse centro gerador, coletivo de construção de
saberes para o país”, desejou a reitora.
A
cerimônia de abertura contou também com as presenças do vice-reitor da
UFV, Demetrius David da Silva; do assessor especial da Secretaria de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Niwton Castro
Morais; do diretor técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural de Minas Gerais (Emater-MG), Milton Flávio Nunes; do diretor de
Administração e Finanças da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas
Gerais (Epamig), Flávio Eustáquio Ássimos Maronii, do
superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar),
Antônio do Carmo Neves, e do prefeito de Viçosa, Celito Francisco Sari.
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